domingo, 31 de outubro de 2010

PONTeirO DE PARTIDA

As horas se passam
Se passam pro lado de lá
Sem mais nem menosprezando o que também já se foi
Agora se laçam
Entrelaçam entre linhas
As palavras ditas que nunca mais serão pronunciadas
E nem propriamente faladas, nem contraditoriamente caladas
As horas, ora palavras, ora lavradas
Nos perdem entre pontos e ponteiros
Nos pedem corredores e banheiros
Nos cedem cinzas em cinzeiros
As horas travam
E traçam a linha de um tempo perdido que não passou
As horas se fazem orações
E convertem em palavras o que os ponteiros escreveram por onde passaram
E por onde deixaram desesperanças esperando no ponto
Do ponto de onde nada partiu.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ovo de codorna

Miúdo como um grão moído.
Pequeno e não graúdo.
No chão quase úmido.
Humilde cerco envolvente.
Quente. Suficiente.
sertão, graúna e seriema.
Seria ema? Emaranhado ninho.
E malocada, calma e alvoraçada.
Da Lusa importada, ave acatada.
Frágil. Protege.
Cuida. Adorna.
A sua cria.
Pequena ave tinamiforma.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Insta e ação

Instalação de um artista autista
Triste história de conquista
Rude escória paga à vista
Avista o que lista nos lisos cantos
Contos contritos de versos tantos
Tentamos colher o que na pista quase fomos
Livres livros nas estantes
Livremente simples santos
Simplesmente livres tontos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Brincadeira de palavras

Se a bossa é nova
E a bolsa é nossa
Vossa seria acabá-la
De pé, rezando
Sem fé, prezando
A cabala encabulada por falta de fala
Abalada, escava o escravo
Cavá-lo ainda mais
Cavalos, animais, animam mais
Mas, mais ainda a saga não é sagaz
Saltitantes, militantes, circulares
Sobre a verde relva
Revoltados e remotos
Na selva, um perdido controle salto
Sal e tom. Pedidos
Espaçados passa-linhas
SPA sardinha
Em paz, Sarinha
Ninho em praça e passarinho
Acabo dando cabo ao que não tinha
Sentia ou “titia”
Acalmo ficando sempre sozinho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Exceptio Volat

Da casa quero a cama, do caos eu tiro a trama
Do olho eu vejo o fundo, no fim eu não me olho
No instante quero o já, já que insisto no que dá (e passa)
Do coma quero a vida, na vida quero o sono
Insano, quero alívio. Que me dá. Quem me dera.
Da sombra quero o frio, da sobra quero o resto
Na hora quero o ponto, não conto, arresto
Do vento quero um tanto. Não trato. Tiro. Planto
Da lógica razoável, do problema, da tangente
Da frase, da palavra, da rima e epopéia
Eu tiro o que inserem
Me deixo, se preferem. Me deito no ínterim
No útero onde moro
Da mira tiro o alvo, tão ágil faço frágil plágio
De mim mesmo não consigo
Com ou sem, sigo
Ligo, desligo. Foi-se o instante
Um tanto obstante do momento certo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O que não é bonito

O que é bonito afinal, caro Lenine?
Se há algo nessa inifinitude, infinitez, infinidade, inafinidade
Confesso que eu não persigo
Não prossigo tal afinidade
Confesso, não sou
Se o que eu gosto já acaba, não começa, completa a sina
Assino o que se estragou
Não danço, dancei, seguindo com passos descompassados
Arrítmicos. Frustrados
E que chova, corroa, corrija rigidamente meus quase acertos
Certo do zero, o nada, que não gosto nem desgosto
Que não sinto
Já não desprezo o que escrevo, nem me atrevo a arriscar
Acredito no que prezo. Prego o que sinto
E valorizo o que gosto, mesmo não demonstrando
Se grito ou se gravo, tanto faz o que agravo
A gente foi, meu caro
E o que fica não é o que sobra, mas o que falta
E quando passar o que se dá, despachado para o lado de lá
Eu não despirei nem disporei, à vista, contraporei
Remontando o despedaço. Despedaçando o remetente
Se há alguma coisa de bonito em tudo, nisso ou naquilo outro, eu continuo
Permanentemente preso ao presente.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Velha rua sem saída

Nuas ruas e avenidas pálidas
Onde as árvores nem percebem
O vento corriqueiro e previsível
Invisível com sempre. Ligeiro e passageiro
As folhas que o acompanham na rítmica dançante
Sob o manto turvo de um final de tarde
Nublado. Estático, sempre encontro
Estreptococos alucinantes de bacilos vacilantes
Valentes, velhos raros
E eu não digo o que, sequer, sempre esqueço
Por essas ruas que não caminho de vez em quando
Quanto mais menos conta
A quota negativa da gigantesca jura arbitrária
Nas plácidas ruas e avenidas suas
Onde as folhas não caem quando o vento falta
E nem falam quanto menos cata
É de carta, cartel, corda e cordel
A última distância que se esconde nos escombros
Entre ombros e sorrisos assombrosos de amálgama.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pensamentos da madrugada

Estrelas caem quando a órbita do vácuo se torna mais densa
A maioria das mulheres não fala o que pensa
Músicas tocam em qualquer lugar
O hipocondríaco preza por sua doença
Tardes são tão quentes quanto manhãs de sol
A busca está em procurar
O lenço é descendente do lençol
E as estrelas que caem, caem no mar
os peixes são fisgados pelo anzol
Os feixes são o desfecho do facho sem fetiche
Canhões não funcionam com bolas de boliche
No que se existe, tanto se insiste
O zero é nada, nem ímpar, porém pré-par
Preparado ao som de tamborim
Lapidado à forma de marfim
Máfia de guaxinim
Mascarados. Ingênuos delinquentes
Em alguns peixes faltam os dentes
Pessoas se igualam a serpentes
Entre entes e parentes
É alguém de repente
As estrelas acompanham a lua
A madrugada é fria e nua
Me deito enquanto na cama quente
E a noite, as estrelas e a madrugada
Passeiam pela rua

Querência

Eu quero a certeza em meio à falta
Eu quero o longe demais pra sentir
Eu quero o tanto o bastante pra ir e vir
Eu quero um montante constante e rir
Eu quero a constância via láctea
Eu quero a sopa das cordilheiras
Eu quero a dança das ondas
Eu quero o zero e um mil
Eu quero o silêncio anestésico
Eu quero o atraso vil
Eu quero o saber descuidado
Eu quero um rascunho borrado
Eu quero um simples bocado
Eu quero a metafísica vinil
Eu quero a fala certeira
Eu quero o som das cachoeiras
Eu quero o medo de ter
Eu quero sempre querer.

Mera quimera

Quisera eu sempre errante
Éramos, dínamos e pássaros
Atordoante baluarte semibreve
Ou meramente conformante
Amante do protagonismo tácito
Obstante ao cerne flácido
Na escala lítio-oxidante
Fragmentos gigantescos de um remorso
A quem deve
Leve-me leve em mi.
Agudo na constante de um troço
Blefando a iminência de um troco
Ora, eminente moço!
Alto falante quão auto-sonante
Qual a tromba d’um elefante
Escorregante e lúbrico caroço

Sânscrito em braile

Trecho ilegível de uma literatura esquecida
É tudo que deixamos, mesmo sem querer
Apostos antes da última aurora
Decorrentes ante outrora
Carregamos o abstivo emanente
De uma mente repulsiva
Atrativa e coletiva
Embora não retifica nem corrobora
A existência única
De uma cínica sina
Natural e clínica
É tudo o que deixamos, mesmo sem saber
Impostos à primeira impressão
Dispostos a qualquer expressão
Calados
Cercados
Selados
Ferramentas arcaicas de velhos soldados

Superlativamente esporádico

Hermeneuticamente vazio. Voluptuosamente esguio
Acefalicamente pensante. Terminantemente frio

Honrosamente desprezível. Horariamente acessível
Fugazmente alarmante. Perfidamente aprazível

Trucidamente aplausível. Errantemente corrigível
Vaidosamente acatado. Fabulosamente horrível

Tardiamente amável. Ateiamente louvável
Ardentemente atestado. Indiscutivelmente lavável

Estaticamente volátil. Repulsivamente amigável
Piamente absoluto. Notoriamente arbitrário

Inconstantemente estável. Nocivamente afável
Ludicamente ostentante. Primordialmente findável.